quarta-feira, janeiro 10, 2007

Melhores quadrinhos de 2006

por Rober Machado

2006 foi um ano muito bom para os fãs de quadrinhos, o número de lançamentos foi muito grande. Não só em quantidade como em qualidade, tanto que foi difícil montar uma lista de melhores do ano. Difícil para o bolso acompanhar tantos lançamentos e difícil para decidir o que deixar de fora de uma lista de somente 10 melhores. Por isso, foi necessário separar em 3 categorias: álbuns e minisséries, séries regulares e republicações. Cada categoria está listada por ordem alfabética, porque colocar em ordem de mérito ia ser muito mais difícil. Mesmo assim, a primeira delas ficou com 11 títulos. Os critérios envolveram não somente a obra em si, como a qualidade da edição.
Seguem as listas, ao final mais algumas considerações gerais.

Álbuns e minisséries

100%, argumento e desenhos: Paul Pope (Opera Graphica)
O cenário é de ficção científica, num futuro próximo, mas isso não é o importante e sim o relacionamento entre os personagens. A história poderia se passar hoje, numa grande cidade qualquer, não faria muita diferença. São pessoas que se conhecem, tem seus planos e acabam se apaixonando. É a paixão que move esses personagens, que foram baseados em experiências do próprio autor e de seus amigos. O traço de Paul Pope é oriundo do underground americano, apresenta uma estética “suja”, mas também nota-se uma influência do mangá na narrativa visual e nas onomatopéias integradas ao desenho.

Adolf, argumento de desenho: Osamu Tezuka – minissérie em 5 volumes (Conrad)
Osamu Tezuka não foi somente o “pai” do mangá, como também uns dos principais artistas desse estilo. Somente recentemente o Brasil começou a conhecer a obra desse mestre. Com encerramento da série Buda (os dois últimos volumes foram publicados esse ano), a Conrad partiu para outra obra significativa de Tezuka. Esta série, bem mais séria na abordagem do que outras de suas obras, inclusive no traço, conta a história de 3 pessoas que se chamam Adolf durante a II Guerra Mundial. Uma delas é um garoto filho e alemão e uma japonesa, que se torna amigo de um garoto judeu, também chamado Adolf. O terceiro Adolf é aquele que todos conhecemos.

Bob & Harv – Dois Anti-heróis Americanos, argumento: Harvey Pekar, desenhos: Robert Crumb (Conrad)
Harvey Pekar produz quadrinhos desde a década de 70 e é reconhecido como um dos principais nomes do ramo, tanto que ganhou um filme sobre sua vida e até fez bastante sucesso no circuito alternativo brasileiro. Talvez por causa disso é que foi finalmente lançado no Brasil, e em grande estilo, ao lado de seu comparsa Robert Crumb. A ironia sobre o cotidiano, do suposto esplendor americano, é a linha condutora das histórias de Pekar, que faz uma espécie de documentário sobre si mesmo, seus conhecidos e situações que presenciou.

Bórgia, argumento: Alejandro Jdorowsky, desenhos: Milo Manara (Conrad)
Pode-se dizer que 2006 foi o ano de Milo Manara no Brasil pelo grande número de obras desse mestre italiano que foram publicadas por aqui. Se for escolher uma, a opção óbvia é esta série, na qual o segundo volume foi publicado aqui apenas poucos meses depois de lançado na Europa. Ao lado de outro mestre, o chileno Jodorowski, Manara criou uma obra requintada, uma soberba recriação da época renascentista. Conta a história da família Bórgia, que chegou ao poder no Vaticano cercada de corrupção e devassidão. Lucrécia Bórgia é a mais nova integrante da galeria de belíssimas mulheres criadas por Manara.

Cinderalla, argumento e desenhos: Junko Mizuno (Conrad)
Pode até parecer uma história infantil para meninas, mas não se deixe enganar, pois contraria vários padrões de mercado. É um mangá (bem) colorido, os desenhos são “bonitinhos”, mas logo nota-se elementos grotescos, a heroína aparece seminua várias vezes, mas sem erotismo. É uma versão distorcida de da história de Cinderela, onde o Príncipe Encantado é um zumbi, assim como o pai e a madrasta de Cinderalla. No baile, ao invés de deixar para trás para o sapatinho de cristal, a jovem esquece seu olho esquerdo. A história inteira é assim, seguindo essa estética “fofo-bizarra”. A edição ainda traz uma entrevista com a autora e uma cartela de adesivos.

DC: A Nova Fronteira, argumento e desenhos: Darwyn Cooke – minissérie em 2 volumes (Panini Comics)
Nostalgia é o que parece mover o autor dessa história ambientada nos anos 50, mas há inovação também. Mistura fatos reais com o surgimento de novos super-heróis, num período que ficou conhecido como a Era de Prata, mantendo uma certa ingenuidade das histórias da época aliada com a pesada realidade do período. A trama mostra basicamente a criação da Liga da Justiça, com a participação de vários outros heróis. Se o texto é de primeira qualidade, a arte é soberba, com painéis horizontais, como um filme em widescreen.

Incal, argumento: Alejandro Jodorowsky, desenhos: Moebius (Devir) – minissérie em 3 volumes
Este é um verdadeiro clássico das histórias em quadrinhos, influenciou dezenas de obras de ficção científica que surgiram depois. Demorou 25 anos para ser lançado no Brasil (chegou a aparecer por aqui em edições portuguesas), uma obra que era muito comentada, mas pouco lida. A história de John Difool, um detetive medíocre que se apossa de um artefato milenar, é contada de maneira primorosa por Jodorowski, misturando ficção científica, fantasia e humor. Moebius estava na melhor fase de sua carreira quando desenhou Incal, portanto não é necessário comentar mais sobre a arte. A edição da Devir é caprichada, reunindo duas histórias em cada volume.

Nausicaä, argumento e desenho: Hayao Miyazaki – minissérie em 7 volumes (Conrad)
Finalmente foi editada no Brasil uma obra que aparece nas primeiras posições de qualquer lista das melhores histórias em quadrinhos já feitas até hoje. Para quem conhece Miyazaki através dos desenhos animados A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado, sabe que ele é um mestre em criar universos fantásticos altamente coerentes na sua lógica interna e com protagonistas femininas marcantes. A preocupação ecológica dá a tônica dessa obra, mas sem nunca ficar piegas. As espetaculares seqüências de ação, os momentos intimistas, tudo fica perfeito com traço detalhado de Miyazaki. Obra-prima. A edição da Conrad também merece elogios.


O Fotógrafo, argumento: Didier Lefèvre, Emmanuel Guibert, desenhos: Emmanuel Guibert e Frédéric Lemercier – minissérie em 3 volumes (Conrad)
Relata uma viagem do fotógrafo Didier Lefèvre ao Afeganistão em 1985, uma época que país vivia sob ocupação da União Soviética e estava em guerra civil. Acompanhando uma caravana da ONG Médicos Sem Fronteiras, mostra as diferenças entre os povos que compõem essa nação e seus costumes. Um trabalho inovador ao juntar fotos e desenhos numa reportagem em quadrinhos. A leitura flui naturalmente entre desenhos e fotos, a narrativa não é prejudicada, um auxilia o outro.

Pequenos Milagres, argumento e desenhos: Will Eisner (Devir)
O que falar do falecido Will Eisner, o grande mestre dos quadrinhos? Não há muito o que acrescentar. Dizer que temos aqui é mais uma obra típica do autor, é dizer que estamos diante de uma obra de arte. Publicada originalmente em 2000, mostra histórias do cotidiano, abordando pequenos acontecimentos que parecem mágicos ou milagrosos. O cenário é Avenida Dropsie, local conhecido de outras histórias de Eisner, que até ganhou uma ótima versão teatral no Brasil. Uma das histórias desse álbum aparece na peça.

W3, argumento: Grant Morrison, desenhos: Frank Quitely (Panini Comics)
Um primoroso trabalho de narrativa visual a cargo de Morrison e Quitely, o texto é enxuto e aparece somente quando necessário. A história é sobre 3 fofinhos animais domésticos (um cão, um gato e um coelho) que são transformadas pelo Exército em sanguinárias armas de matança. O programa é encerrado e os animais fogem, sendo perseguidos pelo Exército. Após tanto sangue e violência, você não verá mais seus bichinhos com os mesmos olhos.



Séries regulares

Blacksad, argumento: Juan Díaz Canales, desenhos: Juanjo Guarnido (Panini Comics)
Com apenas três edições publicadas no exterior, este foi a obra mais recente do pacote de quadrinhos europeus da Panini e também a mais interessante. Histórias com animais antropomorfizados podem sugerir tramas infantis, mas o caso aqui é completamente outro. Um pesado enredo policial, envolvendo violência, sexo, corrupção e racismo. Os desenhos de Canales são o grande destaque, qualquer um fica impressionado com a riqueza de detalhes, as expressões faciais de cada animal, que é cuidadosamente retratado. A utilização da cores também é ótima.

Conan, o Cimério, argumento: Kurt Busiek, desenhos: Cary Nord, Greg Ruth, Timothy Truman (Mythos Editora)
No ano do centenário de Robert E. Howard, seu personagem mais famoso continua numa boa fase. Desde que a Dark Horse lançou o título, Kurt Busiek recomeçou a contar a história do bárbaro, fortemente baseado no material criado por Howard e esquecendo os anos de publicação pela Marvel. Busiek é um exímio contador de histórias, suas tramas prendem o leitor até a última página. Pena que esteja abandonando o título. Os desenhistas se revezam conforme o arco de histórias, mas o desenhista oficial da série é Cary Nord, que tem um traço que lembra o lendário Frank Frazetta.

Demolidor, argumento: Brian Michael Bendis, desenhos: Alex Maleev (Panini Comics)
Se você não sabe porque Bendis é o principal roteirista da Marvel atualmente, então deveria ler Demolidor para descobrir o porquê. Durante quatro anos, Bendis criou histórias memoráveis, utilizando as mais diferentes experimentações narrativas: histórias não-lineares, tramas paralelas e muitos outros recursos. Em várias histórias o Demolidor mal aparecia uniformizado, em outras predominavam os diálogos e quase não havia nenhuma ação, algo raro num título de super-herói. Os diálogos sempre foram o ponto forte de Bendis. A arte de Alex Maleev encaixou-se perfeitamente nisso tudo. Pena que essa fase chegou ao final em dezembro (coincidindo com o cancelamento da revista no Brasil). Mas ficará lembrada como uma fase no mesmo nível que a clássica de Frank Miller.

J. Kendall – Aventuras de uma Criminóloga, argumento: Giancarlo Berardi, desenhos: vários artistas (Mythos Editora)
Muita gente ainda não conhece a série, apesar de ser publicada regularmente há dois anos, mas quem lê sabe que está diante de um trabalho de primeira qualidade. O italiano Berardi é um mestre do roteiro, suas histórias são envolventes e os personagens muito bem caracterizados. É uma série policial, onde uma investigadora tenta traçar o perfil psicológico dos criminosos a partir das pistas que deixam. Não é uma série de ação, apesar de existir um pouco, mas de investigação e em nenhum momento é enfadonha. Também nota-se que Berardi faz uma extensa pesquisa para escrever seus roteiros.

Lobo Solitário, argumento: Kazuo Koike, desenhos: Goseki Kojima (Panini Comics)
Só há um termo que possa definir com precisão essa série: obra-prima. A série está caminhando para o seu final, num total de 28 volumes, com média de 300 páginas cada. É impressionante como a qualidade das histórias se mantém no mais alto nível ao longo de todas as edições. Tudo é perfeito na saga de Itto Ogami, desde do roteiro preciso de Koike até a arte cinematográfica de Kojima. As edições da Panini ainda trazem artigos que explicam sobre o Japão feudal, o que enriquece bastante a leitura, além de um glossário dos termos japoneses utilizados.

Mágico Vento, argumento: Gianfranco Manfredi, desenhos: Goran Parlov, Ivo Milazzo, Pasquale Frisenda e outros (Mythos)
Já foram publicadas mais de 50 edições e a alta qualidade mantém-se inalterada. O mérito principal é de Manfredi, que escreve roteiros após uma extensa pesquisa sobre a época do Velho Oeste, os locais, os mitos indígenas. Não só a pesquisa, mas os roteiros apresentam personagens bem definidos, tramas bem desenvolvidas, sem nunca cair no puro maniqueísmo e na ação pela ação. As edições trazem explicativos sobre assuntos abordados na história, que também são prazerosos de se ler.

Monster, argumento e desenho: Naoki Urasawa (Conrad)
Uma grata surpresa nas bancas. Em meio a vários mangás pré-adolescentes lançados no ano, há esse título adulto de suspense que chegou sem fazer muito alarde. Criado por Naoki Urasawa, considerado um dos principais autores de mangá da atualidade, tem traços realistas e um argumento bem elaborado, que não se apressa para desenvolver a trama, criando o clima de suspense necessário para prender o leitor até o fim. A história, que mescla trama policial e terror psicológico, envolve discussões de ética médica e assassinatos brutais com uma consistência única.

O Gato do Rabino, argumento e desenho: Joann Sfar (Jorge Zahar Editor)
Os dois volumes dessa série lançados até o momento não tiveram uma grande divulgação, mas os leitores devem ficar atentos porque estão diante de uma obra singular. A história de um gato que come um papagaio e passa a falar até poderia ser o mote para uma fábula infantil se não fosse pelo conteúdo da fala do gato. O bichano passa a questionar tudo ao seu redor, a cultura, fé, sabedoria e o comportamento dos homens. O autor tem um mestrado em filosofia, o que ajuda muito no seu texto e sem que fique chato. Seu traço pode parecer distorcido ou impreciso, mas tem um rigor técnico, que se pode notar pela opção de sempre fazer seis quadros por página.

Sanctuary, argumento: Sho Fumimura, desenhos: Ryoichi Ikegami (Conrad)
Política e Yakuza, a máfia japonesa, são os ingredientes básicos desse ótimo mangá. Os personagens são anti-heróis, possuem objetivos nobres, no entanto utilizam as táticas mais sujas para atingi-los. É um roteiro inteligente e envolvente, que segura leitor até a última página. Há intriga, violência gráfica e sexo, nunca de forma gratuita. O traço realista de Ikegami mostra ângulos ousados, enquadramentos diferenciados é o ideal para dar um ritmo ágil para a narrativa. Texto e desenhos estão em perfeita harmonia nesse título.

XIII, argumento: Jean Van Hamme, desenhos: William Vance (Panini Comics)
O primeiro título europeu lançado pela Panini foi uma decisão acertada. XIII é uma série de grande sucesso na Europa, onde começou a ser publicada em 1984, com no máximo uma história por ano, aqui temos duas por mês. A última edição vai ser publicada quase simultaneamente com a européia. Se, no início, a história foi inspirada em A Identidade Bourne, depois toma um rumo próprio, com várias reviravoltas em cada edição. Os desenhos de William Vance são um tanto convencionais, bastante realistas, mas totalmente condizentes com a aventura que se desenrola.



Republicações

As Obras Completas de Carl Barks, argumento e desenhos: Carl Barks (Abril)
A série entra no seu terceiro ano mantendo a mesma qualidade inicial, boa impressão, colorização digital, capas originais e textos explicativos sobre a produção das histórias do “Homem dos Patos”. Na última fase publicada, tivemos as últimas histórias criadas para a revista do Tio Patinhas na década de 60, além de algumas historias escritas por Barks e desenhadas por um dos seus discípulos, Vicar, que possui um traço muito semelhante ao mestre. É uma coleção repleta de aventuras inesquecíveis dos habitantes de Patópolis. Não é a toa que a coleção chama-se O Melhor da Disney.

Batman – Silêncio, argumento: Jeph Loeb, desenhos: Jim Lee (Panini Comics)
Silêncio não é uma das melhores histórias do Morcegão, mas chamou a atenção de muita gente e a revista do Vigilante de Gothan voltou a ficar entre as mais vendidas. Tamanho sucesso motivou a Panini a lançar essa edição definitiva, reunindo os doze capítulos da história e mais uma série de extras, como capas, comentários dos criadores, esboços, num total de 340 páginas. A história, que se assemelha a uma trama policial com várias reviravoltas, é sobre um misterioso vilão que ataca Batman, manipulando os seus maiores inimigos. Há até um romance com a Mulher-Gato e uma luta com o Superman.

Corto Maltese, argumento e desenhos: Hugo Pratt (Pixel Media)
A Pixel entrou com o pé direito no mercado, prometendo publicar todas as histórias do personagem mais famoso criado por Hugo Pratt, boa parte delas inédita no Brasil. As aventuras refinadas e empolgantes do marinheiro Corto Maltese estão em as principais obras já produzidas para os quadrinhos. Histórias que influenciaram inúmeros autores e desenhistas de quadrinhos, como Milo Manara, Guido Crepax, Frank Miller, e até escritores, como Umberto Eco. A edição da Pixel traz artigos abordando o contexto histórico e artístico da obra, além de ter um ótimo acabamento gráfico. Três edições foram publicadas ao longo do ano: A Balada do Mar Salgado, Sob o Signo de Capricórnio e Sempre um Pouco Mais Distante.

Grandes Clássicos DC n.9 – Alan Moore, argumento: Alan Moore, desenhos: vários artistas (Panini Comics)
Pela primeira vez, a série Grandes Clássicos não enfoca um personagem ou um determinado arco de histórias, mas sim um autor. Alan Moore é um dos maiores autores de quadrinhos de todos os tempos. Nesta edição estão reunidos verdadeiros clássicos como A Piada Mortal, Para o Homem que Tem Tudo e O que Aconteceu com o Homem de Aço? e outras histórias menos conhecidas do público, mas não desprezíveis. São 13 histórias com os mais variados personagens, publicadas entre janeiro de 1985 e julho de 1988, o adjetivo genial pode ser usado para classificar várias delas. Alan Moore é brilhante até mesmo em histórias simples.

Ken Parker, argumento: Giancarlo Berardi, desenhos: Ivo Milazzo e outros (Tapejara)
Ken Parker é um das melhores séries publicadas pela editora italiana Sergio Bonelli. Os roteiros inteligentes criados por Berardi apresentam uma ótima caracterização dos personagens e seu ambiente. Ken Parker é o mais humano de todos os heróis de faroeste que já surgiram, nem dá para dizer que é um herói, mas sim uma pessoa que viveu no Velho Oeste. A republicação completa da primeira série pela editora Tapejara está chegando ao fim, com as últimas quatro histórias, que eram inéditas no Brasil. É necessário elogiar o trabalho da editora, que arriscou ao publicar a série no formato original, com ótimo acabamento gráfico, mas de tiragem pequena e preço alto.


Liga da Justiça & Vingadores – Edição Definitiva, argumento: Kurt Busiek, desenhos: George Pérez (Panini Comics)
Uma história que os leitores esperaram mais de 20 anos que para fosse feita, após vários cancelamentos e adiamentos. Reúne os maiores grupos de super-heróis da DC e da Marvel numa grande batalha. Somente alguém como Kurt Busiek, que acompanha as histórias desses heróis durante décadas, seria capaz de escrever um enredo tão cheio de detalhes que os leitores antigos vão entender sem que atrapalhe a leitura daqueles que pouco sabem sobre os personagens. George Pérez, um veterano desenhista de super-heróis está em estado de graça nessa minissérie. Essa edição definitiva, com 292 páginas, vem recheada de extras sobre os bastidores da produção e até ilustrações do projeto original feito por Pérez.

Os Sobrinhos do Capitão – Piores, Impossível – 1936 a 1938, argumento e desenho: Harold Knerr (Opera Graphica)
As histórias dos Sobrinhos do Capitão começaram a ser publicadas em 1897 e continuam até hoje, ou seja, são quase 110 anos de travessuras. Essa edição da Opera Graphica reproduz histórias criadas na década de 30 no formato horizontal, da mesma maneira que foram editadas originalmente. Também traz artigos contando a história de bastidores desses pestinhas, que num determinado momento passaram por uma disputa judicial de direitos de publicação. Conhecer os Sobrinhos do Capitão, é conhecer uma parte importante da História das histórias em quadrinhos, o surgimento da linguagem própria desse meio.

Recruta Zero – Ano Um, argumento e desenhos: Mort Walker (Opera Graphica)
Mais um trabalho primoroso da Opera Graphica com um personagem que estava sumido das bancas brasileiras, mas que já foi bastante popular por aqui. Esta edição compila o primeiro ano das tiras e páginas dominicais do Recruta Zero. Essa não é a melhor fase do personagem, mas é possível acompanhar a trajetória de como se formou o universo dele. No início, Zero era apenas um universitário e histórias giravam em torno da faculdade, mas com o início da Guerra da Coréia, acabou se alistando no exército, de onde nunca mais saiu. A edição traz textos explicativos, que revelam várias curiosidades, até como surgiu o nome Recruta Zero no Brasil.

Sandman, argumento: Neil Gaiman, desenhista: vários artistas (Conrad)
Continua a primorosa reedição da obra-prima de Neil Gaiman pela editora Conrad em álbuns de luxo. Grande sucesso de público e crítica, Sandman explorou as mais diversas mitologias e criou um universo único, onde sonho e realidade se mesclam num mesmo tecido. A prosa de Gaiman é tão refinada e cheia de referências, que faz parecer que esses personagens e histórias são reais. Este ano foram lançadas a excelente Estação das Brumas, Um Jogo de Você (o arco de histórias mais fraco de toda a série, mas nem por isso ruim) e Fábulas e Reflexões, além do volume que reúne as duas minisséries da Morte, a personagem mais carismática dos Perpétuos.

Valentina 65-66, argumento e desenhos: Guido Crepax (Conrad)
O italiano Guido Crepax é um dos mestres do quadrinho erótico e Valentina é a sua mais famosa criação. O autor tinha um grande domínio do uso da luz e fazia diagramações ousadas, criando verdadeiros delírios visuais nas suas páginas e com várias referências à Art Nouveau. Valentina era uma fotógrafa que vivia fantasias fetichistas, incluindo vários ingredientes, como bissexualismo e sadomasoquismo. A editora Conrad começou a lançar todas as histórias de Valentina em ordem cronológica. O primeiro volume reúne as quatro primeiras histórias, ainda um pouco longe da maturidade sexual que a personagem iria ganhar nos anos seguintes, mesmo assim, são uma boa leitura.



Balanço final

Foi um ano marcado por um número muito grande de lançamentos, muito maior que os anos anteriores. Pode-se que foi o melhor ano para os quadrinhos em muito tempo. Vários bons títulos ficaram de fora da lista como Goon, O Prolongado Sonho do Senhor T., Lovecraft, Os Mortos-Vivos, Aldebaran, Blueberry, Derrotista, Ladrão da Eternidade, Shock Rockets, Madman, Livro do Vento, El Gaucho, Uzumaki, A Metamorfose de Lucius, Wild Bill Está Morto, V de Vingança, Crying Freeman, Tintim e muitos outros.
Um segmento que cresceu bastante foi o de quadrinhos vendidos em livrarias, que agora possuem prateleiras e seções específicas para essa área. Tanto que editoras tradicionais de livros também passaram a investir no ramo, como Companhia das Letras, Jorge Zahar, Ediouro, Relume-Dumará. O problema ainda é o preço, bastante alto devido a tiragem pequena. O caso da Opera Graphica é exemplar, edições excelentes, bem acabadas, tiragem pequena e preço estratosférico.
Também surgiram seis novas editoras de quadrinhos no mercado. A média mensal de lançamentos, incluindo a linha infantil, é de 100 títulos. Por um lado é muito bom, pela ampla variedade de obras disponíveis, mas tem que se levar que o número de leitores não aumentou tanto assim. Mesmo com muitos títulos, o volume de vendas ainda é bem inferior ao da melhor fase do mercado brasileiro, que ocorreu antes do catastrófico Plano Collor.
Pela lista, dá para notar que a Conrad e a Panini foram as mais empenhadas em trazer títulos de qualidade para leitor. Com linha de títulos europeus da Panini, com preço acessível e boa qualidade, obras do Velho Continente voltaram a ser publicadas com regularidade por aqui (fora a linha Bonelli, que sempre fez sucesso nas bancas brasileiras). Espera-se que outra editoras sigam o exemplo. O que falta é mais experiências como a da Ediouro em 2005, que lançou Arthur em bancas com preço bem baixo e papel bom.
Mas nem tudo merece elogios. As maiores reclamações são para a Devir, que diminui o tamanho das suas publicações. Ler a história num tamanho menor que o original não chega a ser um impeditivo, o problema é que a qualidade gráfica também caiu em várias edições. A Devir lançou ótimos títulos, como Astro City, Tom Strong, Lovecraft, Sin City, Preacher, Authority, Planetary, vários que poderiam estar na lista de melhores. Os únicos que entraram na lista foram os que foram publicados no mesmo tamanho que o original e com boa qualidade.
O quadrinho nacional ainda aparece timidamente nas prateleiras, fora a linha infantil. Bons títulos foram lançados: Mesa Para Dois, O Instituto, O Messias, Encantarias, Chapa Quente. É uma situação que tende a melhorar, pode ser comparada com o cinema nacional, que vai conquistando mercado aos poucos.
A perspectiva para 2007 é continuar com o mesmo ritmo de lançamentos. Agora só falta que o número de leitores também aumente proporcionalmente com o de títulos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que beleza de lista. Realmente é difícil apontar os melhores entre tanta coisa boa. Menções mais que merecidas para Conan, Júlia (J. Kendall), Mágico Vento, Ken Parker...