segunda-feira, maio 05, 2008

SETON- por Rober Machado

Uma envolvente caçada

Rober Machado

Seton é um mangá diferente dos outros publicados no Brasil. Para começar, é uma biografia, um gênero pouco comum nos quadrinhos em geral. Além disso, trata-se de um naturalista inglês, considerado um dos pioneiros do escotismo ao lado de Baden-Powell. Pela capa, parece se tratar de um faroeste, mas é apenas uma história ambientada nesse período. O primeiro volume apresenta uma história fechada que pode ser lida independentemente do que será publicado nos próximos dois volumes (mais uma edição foi recém-lançada no Japão, mas parece não estar inclusa no atual contrato de publicação da Panini). Fora tudo isso, é uma história que se desenvolve lentamente, sem ser enfadonha.

Ernest Thompson Seton (1860-1946) nasceu na Inglaterra e sua família emigrou para o Canadá quando tinha seis anos. Nutriu uma grande admiração pela natureza e pelos animais. Estudou pintura e tentou entrar no círculo artístico parisiense, mas suas idéias sobre pinturas de animais não foram compreendidas. Depois foi para os Estados Unidos. Entre várias realizações, escreveu diversos livros sobre a vida selvagem, com ilustrações próprias, e participou ativamente dos movimentos de escotismo.

O primeiro volume, Lobo, o Rei de Currumpaw, apresenta o momento da vida de Seton em que volta de Paris e é contratado para caçar um lobo que atacava o gado no Novo México. A história é baseada num dos livros de Seton que narra a caçada a esse lobo. O que a torna incomum é que se trata de um lobo magnífico, líder de uma alcatéia, muito inteligente e que nunca caía nas armadilhas preparadas pelos homens. Também atacava ferozmente o gado, escolhendo os melhores espécimes no rebanho. Matava uma cabeça por noite, no mínimo. A história mostra todos os passos que Seton executou na caça do lobo, também o envolvimento emocional com a caçada e o respeito que vai nutrindo pelo animal, que aumenta a cada vez que o lobo escapa das armadilhas. A conclusão é ótima e emocionante.

O mangá foi escrito por Yoshiharu Imaizumi, formado em veterinária e que traduziu diversas obras de Seton para o japonês, além de escrever um livro sobre o naturalista. Imaizumi desenvolve a história lentamente e mantém o interesse do leitor pela caçada, prendendo a atenção cada vez mais no desenrolar dos acontecimentos. Os desenhos de Jiro Taniguchi também têm uma boa dose da responsabilidade para manter essa atenção do leitor. O estilo realista e bastante minucioso é um grande trunfo, mas as cenas de caçada do lobo aos animais das fazendas é um espetáculo à parte. Taniguchi é um desenhista muito respeitado no Japão e na Europa, mas só teve uma obra lançada no Brasil, O Livro do Vento, também pela Panini.

A edição da Panini é bem acabada, há um glossário de termos utilizados na história, além de um texto do autor sobre Seton. Há alguns erros de revisão, como é comum nas edições da Panini, mas em número pequeno, o mais grave foi trocar 1894 por 1984. Por suas características, esse mangá é uma aposta arriscada da Panini, não se sabe direito que público irá se interessar pela obra. Espera-se que publiquem as edições prometidas, não cancelando como aconteceu antes com outros títulos.

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