quinta-feira, maio 07, 2009

FLORES MANCHADAS DE SANGUE


Samurai brasileiro

Rober Machado

Claudio Seto foi uma pessoa de múltiplos talentos. Desenhista, artista plástico, jornalista, agitador cultural, bonsaísta, ator, fotógrafo, além de ser uma figura central da comunidade nipo-brasileira em Curitiba. Seto iniciou sua carreira artística criando histórias em quadrinhos, foi um dos pioneiros em publicar quadrinhos no Brasil com desenhos no estilo mangá. Uma produção que estava esquecida até pouco tempo.

Felizmente isso foi lembrado e Seto foi reconhecido ainda quando estava vivo por sua importância para o mercado nacional de quadrinhos. O troféu HQMix homenageou o artista em 2008 com um troféu com um personagem saído da revista O Samurai. A publicação original dos anos 60 e 70 pela editora Edrel era pouco conhecida do público, só havia alguns desenhos na Internet. Talvez por isso muita gente nem tivesse ouvido falar de Claudio Seto antes do HQMix, já que não produzia mais quadrinhos desde de meados da década de 80.

Flores Manchadas de Sangue era para ter sido lançado um pouco após o HQMix, mas devido ao lento processo para recuperação dos originais, a edição acabou atrasando e meio do processo Seto veio a falecer. Só que antes disso acontecer ele já havia preparado a edição, escolhendo as histórias que comporiam o volume e escrevendo introduções para cada uma delas.

Seto começou a publicar suas histórias de samurai em 1968, quando tinha apenas 24 anos. Essas histórias saíram dois anos antes que Lobo Solitário começasse a ser publicado no Japão. Seto tinha acesso a mangás e conhecia suas diversas vertentes. Resolveu desenhar suas histórias no estilo gekigá, que são histórias destinadas a adultos. Outra publicação dele da mesma época foi Ninja, o Samurai Mágico, com histórias mais voltadas para crianças, num estilo influenciado por Osamu Tezuka. Isso mostra a grande versatilidade que Seto possuía para o desenho. Mas o que fez sucesso mesmo foi a série O Samurai, publicada até o fim da Edrel.

As cinco histórias reunidas desse álbum foram publicadas originalmente entre 1970 e 1972, mas não envelheceram um ano sequer, parecem publicações atuais. Pode-se imaginar o impacto que essas histórias causaram na época, naquele tempo não existiam histórias tão violentas, nem mortes eram mostradas tão claramente. Hoje os leitores já estão acostumados com isso. Os desenhos de Seto apresentam imagens marcantes e fortes numa narrativa visual que flui muito bem sem necessitar de textos explicativos, algo que era muito usado nos quadrinhos de antigamente.

Tão interessantes quanto as histórias são os textos de introdução de cada uma, nas quais Seto explica um pouco da cultura japonesa e os bastidores de produção das mesmas. Em Idealismo Frustrado conta como a narrativa era uma metáfora da revolução armada contra o governo militar brasileiro da época. Interessante como critica ambos os lados, inclusive demonstrando uma desilusão com movimento revolucionário, algo que ocorreria no meio artístico somente alguns anos depois.

Espera-se que esse seja o primeiro de muitos volumes que resgatem a obra de Claudio Seto, principalmente abrangendo o período da editora Grafipar, que foi o auge artístico dele. Existem muitas pérolas escondidas ali que o público atual nem faz idéia.

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