quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Entrevista com José Aguiar

Entrevista com José Aguiar

Por Rober Machado

Nessa entrevista, José Aguiar conta um pouco sobre seu trabalho mais recente, o Folheteen, sobre seus próximos projetos e a situação do mercado de quadrinhos.

Por que você decidiu fazer um álbum novo ao invés de uma coletânea com as tiras já publicadas e a história que venceu o concurso?

Porque a oportunidade pedia isso. Não é sempre que uma editora como a Devir abre espaço a um novo autor. Eles publicam Mutarelli, Laerte, Fernando Gonzales. Sem falar que a oportunidade de fazer um livro com qualidade gráfica que oferecem é algo tentador. Isso também coincidiu com o ponto de amadurecimento em que se encontra o meu trabalho. Eu já me sentia apto criar um álbum completo sozinho.

Mas a história que venceu o concurso está no álbum. Eu não poderia deixá-la de fora: Ela é a última página! A história do livro conta como os personagens chegaram lá.


Havia material suficiente para um álbum? Esse material poderá ser publicado posteriormente?

Se fosse selecionar o que ainda gosto do material antigo, certamente não. Mas tenho tiras para um álbum razoável em arquivo. Principalmente se reunir minhas histórias curtas. Meu material de tiras espero publicar futuramente, sim. Mas, no momento, estou me dedicando aos álbuns inéditos com histórias longas de Folheteen e Pensão João, outra tira minha.


O traço do álbum está mais estilizado que seus outros trabalhos, até mesmo das tiras do Folheteen, o oposto de Ernie Adams, que é bem mais realista. Por que essa diferença? Com qual estilo você se sente mais à vontade para desenhar?

Bom, o fato do álbum estar mais estilizado que nas tiras reflete a familiaridade que agora tenho com aquele universo. Sem falar nas novas influências que tive nos últimos anos. Folheteen surgiu em 2001 e de lá para cá foi mudando muito. Esse foi um dos motivos de não ter optado por uma republicação desse material. Já Ernie Adams foi pensado para agradar o que eu e (o roteirista) Wander Antunes achávamos que era a expectativa dos editores e leitores europeus. Até por ter uma premissa histórica (a HQ se passa na Chicago dos anos 30), acaba pedindo um apreço diferente aos detalhes . Folheteen é mais icônico pois é o tipo de história onde a identificação do leitor acontece mais facilmente. Pessoalmente essa linha flui mais facilmente para mim. Mas eu gosto muito também de fazer coisas mais "reais". Mas essa característica de mudar de traço é algo comum a tudo o que faço. Eu tento apenas adequar a linha a proposta do projeto.


Teve algum retorno do público adolescente sobre o álbum ou pelo menos da tiras publicadas nos jornais? Eles se identificam com os personagens?

Esse retorno deve chegar agora, com a maior exposição do projeto. Realmente estou muito curioso quanto a isso. Tenho tido um excelente retorno do pessoal na casa dos 30, que se identifica muito com as situações. Quero saber o que o atual adolescente acha dessa imagem que tenho dele. Meus editores sempre me diziam que leitor de jornal só escreve quando não gosta. Mas já houve reclamações nas poucas ocasiões em que, por um motivo ou outro, as tiras deixaram de ser publicadas.


Há perspectivas para novos álbuns ou novas tiras de Folheteen?

A Devir está interessada em novos álbuns meus, não só de Folheteen. Mas, assim como eu, estão curiosos pelo retorno deste primeiro livro. Se tudo correr bem, teremos algo novo nas livrarias ainda este ano, sem falar em outros projetos que apresentei a outras editoras. Quanto ao retorno das tiras aos jornais, é outro efeito que espero seja possível graças a projeção que o livro tem alcançado. Fora isso, elas estarão presentes na nova versão do meu site que estréia este mês www.joseaguiar.com

E outros trabalhos? Algo deva ser publicado em breve? Existe algum interesse de alguma editora brasileira em publicar Ernie Adams?

Em março devem sair duas HQs curtas minhas nas bancas: Baile de Salão, uma HQ de carnaval na revista HQMAniacs e Quadrinhos em outras Bandas (desenhadas)! na revista Omelete, onde conto minha experiência com quadrinhos no período em que estive na Europa. No mesmo mês ainda sai uma revista infantil: Trupe da Saúde, um projeto na linha Doutores da Alegria, de distribuição gratuita.

Já o Ernie Adams, acho que não deve sair no Brasil. Ninguém se mostrou interessado por enquanto.


No último ano, o mercado brasileiro teve um grande aumento de títulos, principalmente direcionados para livrarias e lojas especializadas. Como você vê o mercado para o quadrinho nacional? O caminho é mesmo o da livraria ou ainda existe a possibilidade da banca?

O mercado nacional está inchado. E não ganhamos novos leitores. Ainda mais para HQ nacional. Ao fazer Folheteen tento atingir um público meio perdido: o adolescente.

O mercado nacional ainda engatinha. Não há como viver exclusivamente de HQ se você está começando. E olha que estou começando desde os 16. Mas as perspectivas estão muito melhores. Há mais editoras e as livrarias foram um alento para os autores. Ainda estamos tímidos, mas a produção nacional aumenta a cada ano. A nós cabe mudar a situação. Mostrando material de qualidade, capaz de se comunicar com os leitores.

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