terça-feira, fevereiro 13, 2007

Folheteen

A estranha vida na adolescência

Por Rober Machado

Desde que James Dean apareceu como um rebelde sem causa nas telas do cinema, a adolescência virou um ponto central da mídia. Vivemos numa sociedade de juventude sem fim, onde a beleza dos primeiros anos é perseguida durante muito tempo. Essa época, que é considerada a melhor das nossas vidas (será mesmo?), é tão esticada que nem sabemos mais quando termina.

O termo “teen”, uma simplificação de “teenager” (adolescente), surgiu para designar esse ser com os hormônios em ebulição e cheio de dúvidas, mas acabou adquirindo o significado de juventude ou algo destinado para os mais jovens. Por mais que esperneiem os puristas, é um termo amplamente utilizado, apesar de que mais pela mídia do que a população em geral.

O roteirista e desenhista José Aguiar fez um bom uso do termo ao criar uma série de tiras de jornal em 2001 com o título de Folheteen, um nome que já diz qual o público-alvo e evoca o folhetim, uma história publicada de forma seriada em periódicos. Vencedor do Concurso Internacional de História em Quadrinhos, promovido em 2005 pelo Senac-SP e pela editora Devir, o autor poderia simplesmente juntar as tiras para publicar no formato álbum, ao invés disso, preferiu produzir uma história inédita.

O enredo mostra o cotidiano da adolescente Malu, que detesta o rótulo “teen” e sente-se um tanto deslocada em relação a seus colegas. Assuntos como família, pais separados, sexo, tédio, problemas de comunicação vão cruzando o caminho da jovem que vai enfrentando-os como pode. Apesar da seriedade dos assuntos, a abordagem é leve e cômica, não é o objetivo ser um estudo sobre os problemas da adolescência e sim uma história divertida. Mesmo com algumas situações foram baseadas nas tiras de jornal, não caiu no esquema de ter uma piada a cada três quadros, as idéia são bem desenvolvidas e a história flui com naturalidade. O enredo tem um bom final, que não deixa que a história seja imediatamente esquecida após a leitura. Ou seja, não é mais um produto “teen” descartável.

Para quem conhece o trabalho de José Aguiar, nota que seu traço está mais estilizado que suas obras anteriores, até mesmo das tiras de Folheteen. Talvez, inicialmente, alguns estranhem a cabeça triangular da protagonista e algumas cenas angulosas, mas logo o estilo é assimilado pela leitura, através da narrativa visual que se desenvolve bem.

A história não provoca as reflexões do início desse texto, nem é esse o seu propósito. Isso veio da entrevista com José Aguiar, que afirmou que até o momento teve um retorno maior de pessoas na casa dos 30 anos, da mesma geração do autor. Talvez porque os assuntos da juventude ainda nos acompanhem por um bom tempo e levem a uma identificação com esses personagens, facilitada por serem icônicos de determinados comportamentos. Nessa época de juventude interminável, é bastante significativo que obras destinadas ao público jovem agradem quem tem mais idade. Somos jovens mesmo ou essa vida de adolescente é tão complexa que não conseguimos nos tornar adultos?

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